sábado, julho 15, 2006

ENTREVISTA A JOSÉ BERNARDINO, PRESIDENTE DO DESPORTIVO CB


“Os clubes estão todos de tanga!”

Esta conversa com o presidente do Desportivo de Castelo Branco foi mantida nos últimos dias do último mês durante a festa de encerramento da época do clube. José Bernardino já falou sobre a próxima temporada e abordou as relações que já viveram melhores dias entre o clube a que preside e a ARCB Valongo.

“Sem as entidades oficiais não é possível, neste momento, trabalhar”

Tribuna Desportiva- Esta foi uma época que não foi de ouro mas foi quase…
José Bernardino- Foi uma época espectacular tanto a nível desportivo como a nível financeiro. Penso que conseguimos cumprir, e até ultrapassar, os objectivos a que nos tínhamos proposto. Em termos desportivos a situação já foi mais do que falada, mas financeiramente esta época ultrapassou as nossas expectativas. Nós pensávamos reduzir o passivo em cerca de 20 mil euros ao longo da época, mas acabámos por conseguir reduzi-lo em 30 mil.
TD- Foi mais 50% de redução em relação ao previsto…
JB- Sim, e isso foi importante. O apoio das entidades oficiais foi decisivo porque sem elas não é possível, neste momento fazer qualquer trabalho. Os particulares e as empresas não apoiam, a cidade de Castelo Branco não apoia, e assim é complicado.
TD- Dessa forma ainda tem mais valor a redução do passivo…
JB- Quando se vive uma crise destas ainda mais valor tem. Houve uma grande contenção nas despesas, os pais dos atletas colaboraram bastante, e tem que ser assim, porque é a única solução que vai haver em termos de futuro. Têm que ser os pais dos atletas a contribuir para que eles possam praticar futebol. Nós temos o exemplo em todo o país em que os clubes estão todos de tanga. A nível sénior estou convencido que as competições vão ser muito reduzidas nos próximos 10 anos. Eu até fiquei bastante surpreso quando soube que o 5º classificado do Distrital de Portalegre é que vai representar o distrito numa prova nacional. Isso demonstra alguma coisa. Alguma coisa está mal e alguém tem que por mãos a isto, porque assim não há hipóteses de se continuar a trabalhar. Nós vamos continuar na formação e, pelo menos nestes próximos anos, é assim que vai ser.

“Hoje estou desmotivado e sem vontade de continuar”

TD- Com essa redução no passivo sujeita-se, no bom sentido, a limpar os números negativos ainda neste mandato…
JB- Neste mandato não. É praticamente impossível porque na próxima época vamos participar no Nacional de Juvenis e isso vai trazer mais despesas, ainda que o apoio especial da câmara para essa situação seja superior, acaba por ficar sempre áquem das despesas que vão ser feitas. Se ficarmos na mesma série que ficámos na última vez poderemos ter 7 ou 8 deslocações à região de Lisboa… Portanto neste mandato é impossível, até porque ele vai terminar em Dezembro. Num próximo mandato já será possível, e se por acaso eu tiver disponibilidade e saúde até poderei continuar. Se fosse hoje, apesar de estar contente com o que foi feito, muito sinceramente estava desmotivado porque vejo que as pessoas da cidade não se interessam. Eu já estou a trabalhar no apoio para a próxima época e realmente não há muito interesse. Nós não pedimos muito, pedimos coisas praticamente insignificantes mas mesmo assim há dificuldades, porque as empresas também estão mal. Desta forma não se consegue trabalhar.
TD- Em termos de época 2006/07 quais são os principais objectivos? O maior será talvez manter a equipa de juvenis nos nacionais…
JB- Sim, mas sabemos que é extremamente difícil porque, tirando aqui os distritos vizinhos de Leiria, Santarém ou Portalegre com que nós podemos ombrear, dificilmente conseguiremos tirar pontos às outras equipas, mas o nosso treinador é ambicioso, gosta de trabalhar, o próprio grupo de jogadores também é muito bom, e seria muito bom que o conseguíssemos.
TD- E nos outros escalões?
JB- Nos outros escalões é continuar a trabalhar. Os títulos também são importantes, mas não é objectivo ser campeão.
TD- Uma novidade no próximo ano será uma equipa D de Escolas…
JB- Em princípio vai ter que ser porque há muitos miúdos, mas os espaços começam a escassear. A distribuição dos campos não tem sido a melhor nestes últimos anos. Nós, inclusivamente já fizemos uma carta para a Câmara a dar conta do nosso descontentamento. Nós somos o clube que mais equipas tem e que mais atletas movimenta e temos que ter mais horas que os outros clubes da cidade. Eles também têm o seu direito, mas nós temos que ter mais que eles porque trabalhamos com mais gente e a distribuição dos campos tem que ser diferente. Em função disso é que poderemos ou não avançar com a equipa D. Há mais de 80% de possibilidades de entrar, mas de qualquer maneira vamos guardar.

“O entendimento com o Valongo, nesta altura, parece-me impossível”

TD- Uma relação que não nos parece tão saudável como noutros tempos é a relação com o Valongo. Essa relação deteriorou-se nos últimos tempos?
JB- Não. O que acontece é o seguinte: o ano passado havia um acordo que nunca chegou a ser assinado pelo João Serra e pelo Valongo que não sei que intenções tinha porque eu nessa altura já não estava na Direcção. Houve alguns jogadores que vieram para a nossa equipa de iniciados que estava no Nacional. Nós utilizamos esses jogadores e, no início da época passada fomos confrontados com uma dívida moral, mas não só moral mas também financeira porque havia o compromisso do Desportivo pagar ao treinador dos iniciados da equipa do Valongo na outra época, dívida essa que acabou por ser liquidada pelo anterior presidente pelos seus próprios meios, mas fomos confrontados com um questão moral porque eles apostavam em subir. Nós cedemos-lhes os nossos três melhores jogadores porque eles apostavam em subir, e o que aconteceu é que nem nós nem o Valongo fomos campeões. Nós, para esta época sondamos os pais dos atletas, porque já há uma ligação muito forte ao Desportivo, e eles não eram apologistas de que os seus filhos fossem para o Valongo. Criou-se aqui uma rivalidade…
TD- E nesta altura o entendimento parece-me impossível…
JB- Acho que é impossível. Eu também entendo que deve haver acordos entre os clubes, mas têm que ser os clubes todos da cidade e não só um ou dois, e apostar sempre em ter uma equipa no Nacional. Penso que também não faz grande sentido, duas equipas que estão no Distrital andarem a ceder jogadores uma à outra. E o resultado que deu foi este. Nós, na 2ª fase fizemos mais pontos que o próprio Valongo… Com os três elementos que lhes estavam emprestados por nós, se calhar éramos capazes de ter lutado pela subida. Assim nem conseguiram eles, nem nós. Para este ano decidimos não fazer isso. Dos três atletas um passa a juvenil, vai regressar ao Desportivo, e os outros dois há aqui uma situação que eu penso que eles também não agiram de uma forma correcta. Meteram uma ficha à frente dos jogadores, eles assinaram, quando não havia nada escrito nem acordado que esses jogadores continuariam no Valongo. Esses jogadores são do Desportivo. Aliás, essa é a vontade dos jogadores e dos próprios pais. Penso que não foi a maneira correcta de agir, porque nós, quando estivemos no Nacional, passamos em Dezembro a carta de desvinculação, e eles só não a utilizaram porque não tiveram equipa de juvenis. Há aqui duas maneiras de pensar diferentes. As pessoas têm que pensar bem naquilo que fazem. Neste momento o que eu posso dizer é que vou pedir a carta de desvinculação dos dois jogadores porque tenho direito a ela, e vamos entrar com a inscrição na Associação porque temos autorização dos pais, e nestas idades é isso que conta. Ainda há a agravante que um desses atletas poder ir para o Boavista. São situações que nós queremos ultrapassar e vou ter uma conversa com Valongo.

José Manuel Bernardino em discurso directo já numa abordagem à temporada 2006/07. O grande objecto do clube passa pela manutenção no Nacional de Juvenis e pela continuidade no trabalho em todos os outros escalões. No seguimento do trabalho os títulos acabarão por surgir com naturalidade.

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