quinta-feira, julho 06, 2006

ENTREVISTA FILIPE ROQUE, TREINADOR DE ESCOLAS DO DESPORTIVO CB


“Há neste grupo jovens com muito futuro”

As escolas do Desportivo de Castelo Branco sagraram-se esta temporada campeãs distritais da categoria. O homem do leme foi Filipe Roque, um jovem professor de Educação Física que faz um balanço muito positivo de um campeonato em que a sua equipa, dos 24 jogos que disputou, apenas por uma vez saiu derrotada. No próximo ano pode seguir com este mesmo grupo de trabalho para a equipa B de infantis.

“O elevado número de equipas participantes também contribuiu
para que se fizesse um bom trabalho”

Tribuna Desportiva- O título que foi alcançado pela equipa de escolas do Desportivo de Castelo Branco foi o prémio para uma época de trabalho…
Filipe Roque- Sim, mas em primeiro lugar queria dar os parabéns à Associação de Futebol de Castelo Branco e a todos os clubes participantes pelo elevado número de equipas que entraram no campeonato. Isso também contribuiu para que a nossa equipa fizesse um bom trabalho, porque foram muitos meses de trabalho em que fizemos 24 jogos e apenas perdemos por uma vez. Mas não são só os resultados que interessam, apesar de ser sempre bom ser campeão distrital.
TD- Antevê um bom futuro para este grupo com que trabalhou?
FR- Acredito que sim, não só pelos resultados que conseguimos mas pelo trabalho que eu vejo nos treinos, e vê-se que há neste grupo atletas com um bom futuro.
TD- Foi um campeonato muito discutido com o Valongo mesmo até à última jornada…
FR- Sim, e queria aproveitar também para das os parabéns ao Valongo. Acho que é bom haver disputa até à última jornada o que significa que não há só um clube. Foram dois clubes mas ainda deveriam ser mais a lutar até ao fim. Se houver jogos em que a disputa é de igual para igual as crianças evoluem mais, e se são sempre os mesmos a ganhar e se há resultados muito desnivelados, isso quer dizer que as coisas são desequilibradas. Assim, pelo menos houve duas equipas, e não retirando mérito às outras, é sinal que houve alguns jogos de grande nível.
TD- E o facto de serem duas equipas de Castelo Branco prova também que se está a trabalhar bem na formação, tanto no Desportivo como no Valongo…
FR- Sim, isso é verdade. Não quero aqui puxar a brasa à minha sardinha mas, e falando mais pelo Desportivo, também temos que dar o mérito aos professores. Acho que nós temos uma acção pedagógica sobre os miúdos, não só por sermos professores mas porque sabemos lidar com as crianças, os métodos de treino que se devem usar e as cargas de treino adequadas a dar. Não tirando o mérito a outros treinadores que não são professores mas, aqui em Castelo Branco estamos virados para esse tipo de trabalho que, a meu ver, dá mais frutos, porque nós trabalhamos todos os dias com crianças, sabemos como lidar com elas e sabemos o que eles gostam e não gostam.

“Ser professor de Educação Física não é decisivo, mas ajuda muito”

TD- Acha então muito importante, nestas idades, ser um professor de Educação Física a trabalhar com os miúdos…
FR- Há sempre excepções. Nós sabemos que há pessoas ligadas ao futebol que têm muitas qualidades para trabalhar com as crianças só que, na minha opinião, tem que se ter uma determinada sensibilidade. Por vezes nós vemos os pais que se exaltam um pouco cá fora do campo, mas acho que isso também faz parte, porque nós, até mesmo nos intervalos das aulas, só a jogar uma turma contra a outra vemos sempre aquela vontade de ganhar. Não quero dizer que é decisivo ser professor de Educação Física, mas ajuda muito.
TD- Vai seguir com esta equipa para os infantis?
FR- Eu estou a contar com isso, mas o futuro profissional o dirá.
TD- Concorda com os campeonatos em que há fase final e as equipas acabam por se encontrar quatro vezes com o mesmo adversário?
FR- Desde que haja o objectivo de proporcionar mais jogos às crianças é bom, e se possível com equipas mais equilibradas. Num jogo em que ganhamos por 20-0 nenhuma das equipas tem evolução. A que perde sai desmotivada e a que ganha não foi obrigada a um grande esforço. Desde que haja jogos equilibrados tanto faz jogar 10 vezes como 4 vezes. Quanto mais jogos equilibrados houverem melhor é para as crianças.

“Com as equipas divididas por idades é mais fácil despontar o talento”

TD- Na próxima temporada esta equipa vai subir a infantis B, o que quer dizer, em teoria, que não será candidata ao título, uma vez que depois ainda terá mais um ano de infantil…
FR- Na idade dos infantis é quando eles dão o salto para a puberdade. Nós temos infantis já com a altura de um jovem de 15 ou 16 anos e temos ainda os mais pequenos. No Desportivo, como nós trabalhamos por idades, todos eles têm 11 anos. Alguns deles ainda não deram o salto e, como é sabido, no futebol conta muito o factor físico.
TD- O trabalho por idades é a opção mais correcta, em detrimento de fazer equipas com idades misturadas?
FR- Na minha opinião é, porque normalmente uma criança mais nova joga menos que uma mais velha porque há sempre a questão física. Desta maneira essa criança joga sempre. Pode haver um talento de 11 anos que, jogando com os de 12 anos, acaba por ser igual a eles. Penso que, da maneira que estamos a trabalhar, há mais possibilidades de despontar um jovem talento.
TD- Mas depois também há o factor psicológico das equipas mais novas perderem mais do que ganham…
FR- Sim, pode acontecer, mas mesmo assim acho que esta é mesmo a melhor forma de trabalhar na formação.
TD- Isso também permite um maior entrosamento entre os miúdos porque vêm desde muito pequenos todos juntos…
FR- E não só, porque o espírito de equipa que eles criam também é mais forte.
Aí está um novo treinador de novos campeões. Filipe Roque espera continuar a trabalhar com este grupo, mas agora com a equipa B do Desportivo no distrital de infantis. Mas isso ainda depende de questões profissionais.

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