quarta-feira, junho 07, 2006

ENTREVISTA A JOSÉ MANUEL VAZ, EX-PRESIDENTE DO BENFICA CB


“A minha direcção fez um grande trabalho no Benfica CB”

José Manuel Vaz faz o devido balanço da sua gestão, fala das peripécias acontecidas no clube nas últimas semanas e rejeita todas as críticas que lhe foram dirigidas. O ex-presidente diz que “é muito fácil quando não se conseguem resolver os problemas sacudir a água do capote para cima da minha direcção”. Uma conversa que se impunha num momento complicado da vida do Benfica e Castelo Branco.

“Deixei meios financeiros no Benfica CB para a casa estar em ordem”

Tribuna Desportiva- Como é que tem acompanhado todos estes episódios que envolveram o Benfica e Castelo Branco?
José Manuel Vaz- Com alguma preocupação. Eu tentei dar as melhores informações possíveis para que não houvessem dúvidas no que diz respeito à colectividade e ao futebol sénior. As pessoas entenderam que não me deviam procurar para saber informações, pensaram que já sabiam tudo e, quando não foram capazes de resolver os problemas dentro de casa, resolveram sacudir a água do capote e a melhor solução foi atingir a anterior direcção. A anterior direcção esteve praticamente durante 10 anos no Benfica e Castelo Branco. E não eram 3 ou 4 pessoas! Eram 30 e tal pessoas… Essas pessoas que entraram para essa direcção não tinham conhecimento de nada disto porque eles fizeram-se sócios um dia antes, para entrarem na direcção…
TD- Isso em termos estatutários é possível?
JMV- Naquela altura o presidente da Assembleia-geral disse que sim. No entanto, eu não estou contra as pessoas terem assumido. Sinto-me desconfortável, eu e os anteriores elementos da direcção, ao dizerem que há cá problemas dentro e que foi a direcção anterior que os deixou. A direcção anterior fez um grande trabalho no Benfica. Ninguém imagina! E ficaram cá meios financeiros para a casa estar em ordem. Se as pessoas não têm credibilidade bancária ou perante patrocinadores, isso já é um problema deles. Se eu cá estivesse de certeza que não se falava de ordenados em atraso, porque eu já tinha resolvido isso. Estas pessoas ainda não estão bem por dentro dos assuntos da instituição, mas também não querem ser aconselhados. Se não querem ser aconselhados que sigam o caminho deles e quando me vierem pedir apoio eu cá estarei para dar o melhor apoio possível. Vamos esperar que as coisas corram pelo melhor.
TD- Sente-se de alguma maneira atingido pelas críticas que se ouviram e que diziam que o sr. José Manuel quis ver-se livre do “menino que tinha nas mãos” e empurrou a direcção do clube para as mãos erradas?
JMV- Não. Eu não empurrei nada para ninguém. A mim pediram-me informações sobre o que era o Benfica e Castelo Branco, e formaram uma direcção entre pessoas de Castelo Branco e empresários. Quando eu vi que havia pessoas de Castelo Branco… quem era eu para estar a impedir o que quer que fosse? Nunca ninguém me ouviu dizer numa Assembleia que estavam aqui as pessoas indicadas para tomarem conta do Benfica! Eu fiz o papel de dirigente e presidente na altura. Apareceu uma direcção que assumiu, e acho que não tenho responsabilidades nenhumas neste processo. Se eles não aparecessem naquela altura era claro que eu continuava a gerir o clube até ao fim do campeonato. Mas toda a gente viu a pressão que esses senhores faziam para que fossem eleitos.
TD- E porque é que acha que, com a mesma pressa que entraram acabaram por sair?
JMV- Não sei o que estavam a tentar, nem quais eram os projectos que tinham em mãos. Alguns projectos, como sabemos, acabaram por não se concretizar. Talvez os homens se sentissem defraudados com as expectativas que criaram às pessoas.

“A anterior direcção estava a fazer um orçamento megalómano”

TD- Como sócio também deve ter uma opinião sobre aquele projecto megalómano que foi apresentado…
JMV- Se fosse concretizado 50% do que lá vinha já seria óptimo! Sabia perfeitamente que aquilo não era atingível. Eles são empresários que trabalham no mundo do futebol, só que o Benfica e Castelo Branco não pode ser presidido por alguém que pense que o clube é a equipa de futebol sénior. O Benfica é, primeiro uma instituição, e depois vamos ter o que pudermos. Vamos ter seniores, juniores… mas só o que pudermos. Cada um é que sabe o orçamento a fazer de acordo com o que conseguir arranjar no exterior. Eu enquanto cá estive dei o máximo para conseguir patrocinadores. Eles estavam a fazer um orçamento megalómano mas deviam saber que tinham que ir buscar dinheiro. Aqui não chove dinheiro! Durante este mês e pouco que cá estiveram não fizeram nada disso. Só gastaram! E o que se gastou agora também é capaz de estar a fazer um bocadinho de falta, porque aqui fazem-se contas ao cêntimo. Fizeram um estágio com a equipa, abriram as portas para o último jogo, o presidente gasta mil e tal euros de gasóleo… Só neste espaço de tempo, o que gastaram e deixaram de pagar foram 5 mil euros. Cinco mil euros para o Benfica é muito dinheiro! E que eu saiba não angariaram nem um cêntimo!
TD- Você disse numa AG que até final da época iriam entrar 50 mil euros e iriam ser gastos 45 mil. Mantém esses números?
JMV- Sim. Têm é que ir receber aquilo que está por receber. Tentaram passar uma imagem da direcção anterior que nós deixámos montes de dívidas. Não é nada disso! Agora dizem que estão a bater a muitas portas mas que elas estão fechadas. Isso aconteceu porque, pessoas que patrocinavam o Benfica, e que eram meus amigos, também se sentiram defraudados, porque eles sabiam que estavam a ajudar um amigo que estava na direcção e agora não gostam de ouvir essas tontices que essa gente diz por aí. O maior problema que aconteceu com a direcção anterior é que não conheciam a realidade do Benfica e Castelo Branco.
TD- E acha que esse problema se pode manter agora com esta Comissão Administrativa e futura direcção?
JMV- Não. Eles disseram na AG que faziam falta 30 a 35 mil euros urgentemente e que não tinham hipótese de resolver porque não tinham dinheiro para lá pôr. Passados cinco minutos fazem uma Comissão Administrativa. Então é porque há lá números para pagarem o que devem. Tomaram muitos clubes estarem na situação em que o Benfica e Castelo Branco está.
TD- Isto será uma questão de timing? O dinheiro que está para entrar não entra na data em que é necessário para efectuar pagamentos…
JMV- É porque não fizeram o esforço necessário para receber de patrocinadores e subsídios que ainda há por receber. Toda a gente sabe que, se uma pessoa chegar ao banco, e se tiver crédito, transforma um cheque em dinheiro! Tem é que avalizar isso perante o banco. Se não resolveram isso até agora é porque as pessoas não têm crédito perante a banca. Isso já não é problema meu.

“O andebol feminino ficava caro ao Benfica e Castelo Branco”

TD- Durante estes anos que teve no Benfica e Castelo Branco o episódio mais negativo terá sido a perda do andebol feminino?
JMV- Não… Eu continuo a pensar que o Benfica e Castelo Branco só pode ter as modalidades que tem. Por isso é que eu digo que as direcções têm que pensar primeiro na instituição Benfica. O clube tem que ver onde tem as verbas para as várias modalidades.
TD- Mas o andebol feminino era uma modalidade que ficava cara ao Benfica?
JMV- Ficava.
TD- Não era auto-suficiente?
JMV- Não.
TD- Há umas semanas foi anunciado que o Joaquim Peres seria o adjunto do Leal e envolveu-se o seu nome alegadamente por não aceitar, na qualidade de patrocinador do clube, o nome do Peres. Isto tem algum fundo de verdade?
JMV- Não. Eu comuniquei às pessoas da direcção que o Benfica e Castelo Branco, na minha opinião, tem que ter pessoas credíveis, com bom nome, e que não tenham outros defeitos que a gente sabe, porque só assim é que a instituição pode ser credibilizada. Foi isso que eu tentei transmitir e que havia certas pessoas que denegriam a imagem das direcções e automaticamente do Benfica. E eu disse-lhes o nome de algumas pessoas…
TD- E o Joaquim Peres era uma dessas pessoas?
JMV- Não vou dizer porque eu nunca ouvi falar no nome desse senhor.
TD- E se o Joaquim Peres for o treinador da próxima época, continua disposto a ajudar o Benfica?
JMV- O problema é deles!
José Manuel Vaz comenta a actual situação do Benfica e Castelo Branco, faz o balanço da sua gestão e deixa, simultaneamente algumas críticas. Um ex-presidente que continua a acompanhar de perto a vida do emblema albicastrense.

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