quarta-feira, junho 14, 2006

ENTREVISTA A ANTÓNIO JOAQUIM, TREINADOR DO VITÓRIA DE SERNACHE


“Não pode ser só o treinador a ter vontade de subir”

Mesmo terminando em 2º lugar, ou o primeiro dos últimos, como muitos preferem, António Joaquim ficou contente com a época do Vitória de Sernache. O técnico vitoriano faz a análise da temporada, fala das muitas dificuldades com que se debateu ao longo do ano mas ainda se refere muito pouco ao futuro.

“Dadas as nossas limitações o 2º lugar é bastante bom”

Tribuna Desportiva- Quando começou a temporada disse-nos que o objectivo era ficar no pódio, isso foi conseguido com um 2º lugar, se bem que há quem diga que o 2º é o primeiro dos últimos…
António Joaquim- O objectivo era fazer o melhor possível. É claro que sabíamos as nossas capacidades, o plantel que tínhamos e sabíamos que poderíamos ficar entre os 3 primeiros. Penso que da maneira que decorreu o campeonato, dadas as limitações que tivemos ao longo da prova, o 2º lugar é bastante bom para o clube, para os jogadores, e para o treinador também é bom.
TD- O Sernache foi várias vezes apontado como favorito mas você queixou-se ao longo do campeonato de um plantel muito curto. Esse foi o principal problema?
AJ- Nós tínhamos um bom 11 mas faltava o resto. Nós sabíamos isso e até o dissemos antes de começar o campeonato. A questão de colocarem o Vitória como favorito é normal, porque é um clube com pergaminhos no distrital, é um clube digno e é sempre um clube que tem que ser respeitado. Tínhamos um plantel muito curto e ainda tivemos muitas limitações com o decorrer do campeonato. Tínhamos jogadores no 11 que não podiam dar o seu contributo nos treinos e é claro que uma equipa que quer mais do que aquilo que nós conseguimos não pode ter estas limitações. Tem que ter um plantel com mais quantidade, tem que ter uma retaguarda mais forte que a nossa, não pode ser só o treinador a ter vontade de subir de divisão. De qualquer forma a direcção também nunca nos pediu mais…
TD- E havia essa vontade de subir do treinador?
AJ- Há sempre. Uma vontade muito grande principalmente no Vitória de Sernache que é um clube que tem feito muito por mim e pelo qual eu também tenho feito muito, um clube que eu gosto e que é o clube da minha terra. Há sempre essa ambição. Não pode é ser só a ambição do treinador. Tem que ser também a ambição de todos os jogadores e não só de alguns. De qualquer das formas o 2º lugar não nos deu nada mas foi bastante bom. Mesmo sendo o primeiro dos últimos há muita gente que gostaria de ficar no nosso lugar. Dos 4 primeiros classificados o nosso plantel seria o mais curto mas com alguma qualidade, apesar dos outros, se calhar, até terem qualidade superior. Acabámos por ser mais regulares, apesar do grande número de contra-tempos ao longo da época. Tivemos sempre pouca gente nos treinos e outras situações que eu não contava. Tivemos jogadores que telefonavam à sexta-feira a dizer que não podiam ir ao jogo porque tinham que estudar, outros faltavam para ir a baptizados, outros porque se lembravam que o regulamento que tinha que ser cumprido era o do jogador e não o do clube e batiam com a porta… são situações que são da responsabilidade única e exclusiva do treinador e ele foi o único que teve que as resolver porque mais ninguém se prestou para isso. Isto no desenrolar de uma época custa pontos. Mas acabámos por fazer um campeonato brilhante, fora de casa perdemos apenas uma vez, e não fomos inferiores ao adversário mas fomos inferiores a quem decidiu o jogo.

“Jogámos constantemente com três jogadores
que não treinavam regularmente”

TD- O tal plantel em quantidade que não teve foi a grande diferença para o Penamacor?
AJ- O Penamacor tinha um plantel mais equilibrado, com mais quantidade, se calhar a ADEP teve sempre um número constante de jogadores nos treinos, tudo isso é essencial. Nós tivemos 3 jogadores que eram titulares e que não treinavam regularmente. Fizemos 118 treinos durante a época e eu tenho jogadores que foram titulares que fizeram 31 treinos… Antes de começar o campeonato pedi mais jogadores mas não foi possível. O importante foi cumprir-se sempre aquilo que foi acordado.
TD- Qual foi o jogo em que viu que o Penamacor já era inalcansável?
AJ- Nós andamos bastante tempo no comando da classificação e depois a orgânica deste campeonato também não permite manter um ritmo competitivo constante porque joga-se de 15 em 15 dias e às vezes de 3 em 3 semanas. Nós nunca nos preocupamos com a distância em relação aos outros. Preocupámo-nos em fazer o nosso campeonato. Creio que o treinador do Sernache manteve sempre, ao longo do campeonato, um discurso sério, e analisámos sempre as coisas jogo a jogo. Depois da época terminar posso dizer que houve dois jogos que mexeram com a moral da equipa, que foi o jogo de Oleiros em que criámos situações de golo suficientes para ganhar e acabámos por empatar e depois o jogo depois da paragem de Natal e Ano Novo em que tivemos o azar de não conseguir ganhar ao Unhais da Serra. Desperdiçamos uma grande penalidade, algumas situações de golo… Depois devido à inexperiência de alguns jogadores terão começado a pensar que o campeonato estava decidido porque ou se luta para ser primeiro ou então a ambição não existe. Nós nunca se quer assumimos o 2º lugar mas, a partir do momento que fomos a Penamacor, eu tive que dizer aos jogadores, até para criar alguma ambição dentro do plantel, que íamos lutar pelo segundo lugar. Não nos dava nada mas era uma questão de nos motivar dentro do grupo. Fomos uma equipa diferente de algumas das outras porque praticámos um futebol bonito, apoiado e que dava gosto ver jogar.

“Se os jogadores saírem penso que não será pelo treinador”

TD- Ao longo da temporada deixou algumas críticas aos árbitros. Houve alguma evolução positiva nesse capítulo?
AJ- Este ano foi um ano em que tivemos o lote de árbitros praticamente todo disponível no Distrital, porque eles tinham descido quase todos no ano anterior. Eu critiquei os árbitros mesmo quando ganhava. Não sei se havia alguma coisa, não contra o clube, mas contra o treinador, porque era uma pessoa séria e directa e nunca optou pelo discurso do elogio quando ganhou e da crítica quando perdeu. Tive sempre um discurso realista e analisei as situações sempre de uma forma rigorosa e séria. Senti que havia decisões, talvez por estar dentro do campo, que eram sempre contra o Sernache. Situações de falar para as pessoas e elas demonstrarem uma certa arrogância quando para o outro lado mostravam mais abertura ao diálogo. Isso terá sido uma questão mais pessoal, mas eu continuo a dizer que há bons árbitros em Castelo Branco, tive boas arbitragens mas também tive jogos em que tive mais dificuldades em ganhar porque só o valor da equipa não dava para disputar o jogo. Era preciso ter mais qualquer coisa que não tivemos e que o adversário teve.
TD- E a prova de reconhecimento pelo valor do plantel do Vitória é a procura que eles estão a ter nesta altura…
AJ- Não sei de nada do futuro. Eu já ouvi que há uma debandada de alguns jogadores, mas é claro que isso não me compete a mim falar. Neste momento eu estou disponível para todos os clubes, não sei nada do futuro. O que se ouve, ouve, mas eu não queria comentar isso. Se for verdade é o reconhecer do trabalho que foi desenvolvido no Vitória de Sernache ao longo destes três anos. Eu cheguei ao Sernache há 3 anos, encontrei uma equipa de juniores, fomos organizando a equipa, fazendo boas exibições por esse distrito e creio que na última época, devido ao esforço que fiz, fui recompensado com a vinda de alguns jogadores e, acima de tudo com a vinda de alguns amigos para o plantel do Vitória. Se eles saírem eu penso que não será pelo treinador mas cada um terá que pensar no que será melhor para si. Mas são aspectos que dizem respeito à direcção e não ao treinador.
A palavra do técnico segundo classificado da Divisão maior do futebol Distrital. António Joaquim diz-se, neste momento, “disponível para qualquer clube”. A saída de um grande número de atletas parece estar a acontecer no Vitória mas o técnico diz que “isso é um problema da direcção”.

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