segunda-feira, dezembro 18, 2006

DEBATE ORGANIZADO PELO CONSELHO DE ARBITRAGEM DA AFCB


“Daqui a 20 anos não haverá árbitros”

O Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Castelo Branco organizou na última sexta-feira no auditório do Instituto Português da Juventude um debate em que esteve presente Vítor Pereira, antigo árbitro internacional português, que preside actualmente à Comissão de Arbitragem da Liga de Futebol Profissional.
A profissionalização da arbitragem, as novas tecnologias, a relação arbitragem/Comunicação Social e a Formação de novos árbitros foram alguns dos temas em destaque num debate que durou cerca de 3 horas e que juntou pouco mais de 30 dezenas de interessados em ouvir o que um dos melhores árbitros portugueses de sempre tinha para dizer.

“Para a profissionalização ser completa falta que
os árbitros tenham um contrato de trabalho assinado”

A questão da profissionalização ou não dos juízes esteve em debate durante praticamente uma hora. Vítor Pereira disse claramente, a este respeito, que “a profissionalização está muito perto do modelo que temos actualmente em Portugal. O que é que significa ser profissional? Não é alguém ser pago para cumprir determinada tarefa? E isso não acontece actualmente? O grande problema que se põe é que os árbitros deveriam ter que assinar um contrato de trabalho. E isso é que não existe. A questão não está na quantidade de dinheiro que um árbitro vai ganhar a mais, mas sim na quantidade do tempo que vai ter a mais, para estar com a família e para o lazer”.
Por outro lado, e voltando atrás na sua carreira, Vítor Pereira confessou que “em 23 anos de arbitragem nunca treinei num campo de futebol. Inclusivamente cheguei a treinar no alcatrão!”. E nesse sentido deu em Castelo Branco uma notícia em primeira-mão aos que estiveram presentes no debate. A CA da Liga vai propor um plano entre a Liga, a Federação Portuguesa de Futebol, as Associações distritais e algumas autarquias que tem como objectivo a criação de um Centro de Formação de Árbitros em cada distrito, em que esteja sempre presente um preparador físico e um técnico.

“Não tem mal nenhum ser do interior
ou termos nascido neste cantinho da Europa!”

A questão da interioridade também não esquecida, mas para o homem forte da arbitragem da Liga, “esse não é um problema. Não tem mal nenhum ser do interior ou termos nascido neste cantinho! Mas sentir complexos por esse motivo, isso é que já é diferente! Nós não fomos voluntários para nascer e temos que aceitar a nossa realidade”. E não deixou de referir o seu exemplo: “eu, mesmo português, cheguei tão alto como os outros que têm tudo a seu favor. E digo isto com um certo orgulho porque me empenhei e consegui”, aproveitando depois para deixar um conselho a alguns jovens árbitros presentes na sala: “como vêem, tudo é possível, e tudo depende de vocês para que o futuro tenha mais qualidade que o passado e presente e que tenha mais qualidade que a minha geração e a anterior”.

“Sou um defensor acérrimo dos Núcleos de Árbitros”

Fundador do agora designado Núcleo de Árbitros de Lisboa, o ex-internacional português mostrou-se um “acérrimo defensor dos Núcleos de Aperfeiçoamento Técnico de Árbitros porque permitem duas coisas: primeiro que se tenha uma boa condição física, desde que haja infra-estruturas e um técnico, e depois porque dão a possibilidade aos árbitros de se reunirem e falarem entre eles. E, se isso acontecer, vão ver que os próprios árbitros, no debate de ideias têm ideias muito diferentes sobre o mesmo lance”. E no capítulo do aperfeiçoamento, e voltando a esbater a ideia da interioridade, referiu como exemplo a utilização da Internet. “Hoje em dia estamos todos ligados numa rede mundial. E seja em Lisboa ou aqui no interior estamos todos à distância de um clique da mesma informação”.

“Hoje já há menos de 3 mil e daqui a 20 anos não haverá árbitros”

A diminuição ano após ano do número de árbitros em Portugal é algo que preocupa sobremaneira Vítor Pereira. “Há uns anos tínhamos 6 mil e actualmente já estamos pela metade… Mas este não é um problema exclusivamente português. Se formos à Alemanha é a mesma coisa e, na Espanha, actualmente precisavam de 22 mil e têm 11 mil…” Daí a concluir que daqui por duas décadas não teremos árbitros foi um passo e Vítor Pereira deu mesmo o exemplo que se passa na Associação de Futebol de Lisboa, “actualmente, há dezenas de jogos todas as semanas das competições da Associação de Lisboa que ficam sem árbitro nomeado pelo Conselho de Arbitragem… e isto simplesmente porque os árbitros já não chegam para o número de jogos!”

“Árbitros nos flash-interview como regra, não!”
A relação dos árbitros com a Comunicação Social também não foi esquecida e, sobre os ex-árbitros que depois de terminada a sua carreira viraram comentadores de arbitragem nas rádios e televisões, Vítor Pereira concorda com a ideia: “É evidente que eu gostava de ter colegas que deixam o activo a ensinar os mais novos porque são as pessoas mais capacitadas para o fazer, mas prefiro ver um ex-árbitro a comentar o trabalho de um colega do que um qualquer que não tem formação na matéria”. Quanto à comparência, ou não, do árbitro nas entrevistas rápidas no final de cada jogo, o líder dos árbitros da Liga foi peremptório: “como regra nunca acontecerá, agora como excepção, se for com o objectivo de esclarecer a opinião pública concordo. O problema é que a grande maioria das pessoas querem que o árbitro vá lá dizer porque é que não marcou aquele penalty ou não expulsou aquele jogador… e assim não”.

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